segunda-feira, 31 de outubro de 2016 | By: justV

Querida Borderline...



Olá, Transtorno de Personalidade Borderline!


Posso te chamar de Borderline? Alguns escrevem limítrofe, fronteiriço (esse é cômico!), emocionalmente instável (esse é justo), mas eu estou acostumada a me referir a você como Borderline, espero que não se importe. Sempre escrevo sobre você, mas nunca escrevi para você, mas nunca é tarde, certo?

Não irei mentir, eu não sou a sua maior fã, na verdade, ás vezes eu acho que te odeio. Você não sou eu, você habita dentro da minha mente, mas a maioria das pessoas pensa que você realmente sou eu. Você me transforma, temporariamente, em personalidades que eu não sou, ou, pelo menos, acredito que não sou. Você vê? Você habita um lugar tão sensível e único da minha mente que nem mesmo me permite saber quem eu sou. Por que você faz isso? 

Você tinha todos os lugares possíveis para fazer casa na minha mente, mas escolheu um lugar estratégico, não é? Você escolheu o centro do meu Eu verdadeiro e construiu uma casa ali, e desde então, ao menor sinal de descontrole emocional, você se aproveita para fingir que sou eu, e então todas as pessoas acreditam que aquela pessoa gritando, xingando, dizendo que quer morrer, chorando sem parar e todas aquelas coisas que eu nem mesma me lembro... elas acreditam que aquela mulher meio criança birrenta sou mesmo eu. Como você conseguiu me transformar nisso? 

E sabe o que é pior de toda essa história? Eu não sei exatamente quando você entrou na minha mente e começou a construir a sua casa aí, mas eu suspeito que foi mesmo antes de eu sair do útero da minha mãe. Você só queria sobreviver não era? O único melhor hospedeiro da história toda foi eu. Não existiu outro. Eu fui a sua melhor chance. Eu tinha a "falha" na mente e tive o ambiente apocalíptico perfeito. Pronto, lá estava você, habitando com todas as forças na minha mente. Construindo um Eu completamente falso, que muda a cada estação, a cada pessoa que conheço, que pode ser moldado facilmente. Um eu bagunçado, complexo e vazio. Você entende que somos vazios? 

Borderline, tem dias que eu amo você, de verdade, mesmo com toda a dor que você me causa. Dor que eu me lembro de carregar desde que eu era muito, muito pequena e meu avô me carregava no colo. A propósito, havia outro de você dentro dele também, não é? Ou, ao menos, algo parecido? Meu avô também sofria de vazio igual a mim, mas me amava como um pai. É, Borderline, eu te amo, ás vezes, porque mesmo com toda essa dor, você me trouxe experiências maravilhosas, intensas. Intensidade é seu sobrenome, certo? Quantos sentimentos bons em intensidade, eu senti? Milhares. Mas você cobrou um preço bem alto depois. 

O que você quer de mim? Porque realmente parece que você quer sugar toda a minha vida. E o seu golpe final vai ser tirá-la de mim. Mas saiba que estou escrevendo para deixar registrado que você não vai ter sucesso. Apesar de você ter me transformado em alguém complexa. Às vezes eu nem mesmo sei se sou uma pessoa, se estou aqui. Mas de uma coisa você pode estar certo, eu não irei entregar a minha vida a você. Eu não tenho nenhuma certeza de quem eu sou, mas há fôlego nos meus pulmões, então tem vida aqui dentro e não é você que vai tirar. Eu vou resistir, entendeu? 

Essa não vai ser a primeira carta, afinal, não é a primeira - nem a última - vez que você me ameaça. Mas eu sei que não é por mal, é da sua natureza se auto defender, assim como é da minha preservar a minha vida a qualquer custo, nós apenas temos que achar um meio termo, porque eu quero descobrir quem eu sou sem você morando aí dentro.

Sinceramente,

Michele. "

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